Na busca pelo eleitorado evangélico, a pré-candidata da Rede à Presidência da República, Marina Silva,
deu uma demonstração, na noite desta sexta-feira (13), de aproximação
com pastores de igrejas históricas que se distanciam da pauta defendida
pela bancada evangélica no Congresso Nacional. O movimento foi visto por
interlocutores e líderes religiosos como contraponto a Jair Bolsonaro
(PSL), presidenciável que vem recebendo apoio de figuras evangélicas
críticas a Marina.
Marina se reuniu, na capital paulista, com um grupo de
pastores composto em sua maioria por presbiterianos, batistas e
luteranos que já a apoiaram em eleições anteriores. No discurso, ela
defendeu pontos de uma reforma política apresentada pelo movimento
Reforma Brasil, encabeçado pela Primeira Igreja Presbiteriana
Independente de São Paulo.
“Tenho a felicidade de ter o voto de evangélico, voto de
católico, voto de espírita, voto de quem crê e voto de quem não crê.
Porque eu me dirijo aos cidadãos brasileiros e respeitando a fé de cada
um e, sobretudo, não negando também minha identidade”, disse a
pré-candidata, quando perguntada por um jornalista se ela se considerava
detentora do voto evangélico assim como Jair Bolsonaro. Ela fez questão
de citar que há pesquisas apontando que os fiéis não tendem a votar em
quem o pastor pede, mas com base em uma escolha livre.
Enquanto Marina falava de reforma política e insistia
que não queria “rotular” seu eleitorado entre os evangélicos, pastores
ouvidos pelo Estadão/Broadcast Político apontaram a pré-candidata como
porta-voz de um programa amplo de governo que a coloca, na visão desses
líderes, como alternativa a um discurso extremista de Jair Bolsonaro.
Para a ocasião, Marina levou uma claque composta pelos
principais articuladores de sua pré-campanha. Estavam a coordenadora de
campanha, Andrea Gouvea, o coordenador de alianças, Pedro Ivo, e os
coordenadores de mobilização, Lucas Brandão e Lais Garcia, além de
integrantes de movimentos sociais que apoiam a presidenciável e
pré-candidatos da Rede em São Paulo.
Chamada de “linda” por um dos pastores quando subiu ao
palco, Marina arrancou aplausos no momento em que se posicionou contra a
proposta de armar os cidadãos. Também recebeu uma oração em que se
pedia “esperança em dias melhores” para o País.
Na palestra, Marina concordou com o manifesto do
movimento que pedia o fim do foro privilegiado, e ainda sugeriu um
plebiscito para consultar a população sobre a prerrogativa. Também se
posicionou favorável ao voto distrital misto e defendeu mandatos para
presidente da República com duração de cinco anos sem reeleição, a
partir de 2022. Ela finalizou sua participação com críticas ao bloco do
‘centrão’, que negocia uma aliança eleitoral com Ciro Gomes (PDT) ou
Geraldo Alckmin (PSDB). “Para a face do centrão, [vamos] apostar na
população”, disse.
Respondendo a perguntas de líderes na plateia, Marina se
posicionou contra convocar uma nova assembleia constituinte, além de
defender a nomeação de ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF)
com “testemunho ético” e que não tomem decisões de “natureza política”.
Sobre economia, disse que o teto dos gastos públicos “não está
funcionando” e que é preciso fazer a reforma da Previdência.
Amigo de Marina, o reverendo Valdinei Ferreira, um dos
líderes do movimento, disse que vê na pré-candidata e no empresário João
Amoêdo (Novo) as alternativas para a renovação política na eleição
presidencial. No manifesto lançado pela igreja de Valdinei, há uma
crítica a políticos que usam títulos religiosos como “pastor” e
“missionário” para fazer campanha e trabalhar em Brasília. Ele afirma
que é preciso apresentar à sociedade outras propostas defendidas no meio
cristão, e não se restringir a temas morais.
Também presente no evento, o pastor Ed René Kivitz,
líder da Igreja Batista de Água Branca e conselheiro de Marina, afirmou
que a presidenciável é a melhor alternativa contra a polarização entre
Jair Bolsonaro (PSL) e os outros candidatos da esquerda na eleição de
outubro. “Ela é uma trégua para um país divido”, disse Kivitz, que
declarou voto à ex-ministra na última eleição. Na avaliação dele, se
Marina for eleita, a probabilidade de partidos trabalharem para
derrubá-la do governo é bem menor do que se o presidente for de uma
legenda protagonista da polarização esquerda/direita.
Outro pastor aliado a Marina é Caio Fábio d’Araújo
Filho, líder da igreja Caminho da Graça, em Brasília, que também
aconselha a presidenciável. Por telefone, ele disse à reportagem que o
apoio à pré-candidata vai crescer no eleitoral evangélico com o voto de
“cristão silenciosos”, que não vão para as redes sociais como os
apoiadores do presidenciável do PSL. “Os que apoiam o Bolsonaro apoiam
por razões simplistas, são pessoas profundamente homofóbicas”, disse o
pastor. “O pessoal que entende, pensa e escolhe sem fanatismo não é
minion da Marina, são pessoas modestas e tranquilas, uma multidão enorme
que vai crescer avassaladoramente nos próximos dois meses.”

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